Essa semana Macaé quase nos deixou. Não, ele não ficou doente nem sofreu nenhum acidente, ele simplesmente ia embora, ia viver com outros cachorros numa colônia de férias canina. Não para sempre, seria apenas uma temporada, foi o que explicamos várias vezes para Antônia. O problema é que a nossa vida tá muito difícil, estamos novamente às voltas com a doença do Denis, que o deixa muito fragilizado para cumprir as tarefas domésticas e, na falta de outra pessoa, sobra quase tudo pra mim: cachorro, criança, trabalho, vida.
Não estou reclamando, é o que é e tudo bem, vamos em frente. Mas, de repente, Denis veio com a ideia de mandar o Maca para o sítio de um amigo por uns tempos e aliviar a barra pro meu lado, já que mandar a criança infelizmente não era uma opção e na hora a solução pareceu ideal. Um amigo tem um sítio que abriga vinte cinco cachorros resgatados. A mãe costumava ter uma ONG por lá, hoje não aceita novos bichos e cuida só dos remanescentes, mas abriria uma exceção para nós por sermos amigos e por se tratar de uma situação temporária.
A cada dia que passava, e a data da partida se aproximava, a gente comemorava os inúmeros benefícios que deste trato: uma casa mais limpa, livre de pelos, menos tarefas – afinal são de dois a três passeios por dia – menos ansiedade, mais silêncio e tranquilidade na hora de receber alguém. Sim, Macaé não é muito afeito a visitas. Estávamos tão cansados – estamos – que só olhávamos o lado positivo. Mas aí, do nada, um banzo se instalou. Puxa vida, Maquinha faz nove anos mês que vem, já é um senhor. E essa fuça que nos encara pedindo amor? Sem falar na Antônia, que começou a perguntar todos os dias que dia ele voltaria e se ele iria morrer.
A gota d’água foi um sonho que tive, na véspera da partida, em que minha avó – que já morreu – aparecia lá em casa e dizia que Macaé não poderia ir embora porque Antônia não parava de chorar. Pronto. Como duvidar de uma mensagem vinda do além? Que los hay, los hay. Comentei com Denis minhas dúvidas e ele confessou que também estava sentindo o mesmo, ainda que fosse só por um ou dois meses, nosso medo era o cão não aguentar esse abandono. E depois, Antônia não merecia mais essa, ela estava realmente abalada. O que não deixa de ser engraçado, dado que Macaé não liga a mínima pra ela, fato que, aliás, sempre me deixou com muita raiva.
Nessa hora o amigo ligou e disse que estava saindo em menos de uma hora para buscar o novo hóspede. Era agora ou nunca, teríamos de tomar uma decisão. Nos olhamos e sabíamos que Maquinha não iria a lugar nenhum. É nosso estorvinho, mas é família. Antônia ficou radiante com a notícia e Maca - ainda bem - nunca vai saber as reviravoltas de seu destino.
Atenção à Morfeu. E força ai!
salvo pelo gongo!