Foto banco de imagem: mulher de 40 anos. Não tô me vendo aí, entende?
Continuando um pouco o assunto do último texto, o lance do 40 que tem me chamado mais atenção – para além da perda colágeno e de perceber que, enfim, passamos o bastão para próxima geração – é a exata noção da finitude das coisas e a pressa em realizar tudo que você acha que está no canto do cisne para fazer: mudar hábitos de vida, alimentação, sono, cigarro, exercícios, profissão.
Outro dia me peguei numa discussão interna sobre biquíni e outros itens do guarda-roupa. Existe data limite para usar biquíni de lacinho? É óbvio que a resposta é não. Somos feministas, engajadas, empoderadas etc, mas, ainda assim, somos todas algozes de nós mesmos. Ok eu fazer um botox de leve? Um preenchimento aqui no bigode chinês? Falo pra mim mesma que é simplesmente querer ser minha melhor versão. Mas o que essa frase significa? Que minha melhor versão é uma versão minha de 30 anos?
Às vezes me sinto num limbo entre o apego à juventude e o total relaxamento que a meia idade vai – assim espero – me proporcionar. São raras as vezes que tenho ânimo de ir numa festa que comece tarde, por exemplo (isso eu boto na conta da pandemia, que drenou todo minha estamina social). E aí, quando me arrumo (digamos que seja assim um festão) entra a neura: o look perigótica ainda cai bem em mim? Tô sendo ridícula? O que eu DEVERIA vestir? Ok, ok, já falamos sobre isso: o que eu quiser vestir. Mas não é tão simples mudar a chave de anos e anos de repressão feminina.
Minha mãe tem uma amiga de vida inteira que sempre foi rata dos exercícios. Ana sempre teve corpão. Aliás, até hoje, aos 70, tem um corpão. Me lembro que quando Ana tinha uns, sei lá 55, ela usava shorts, vestidos curtos e o comentário geral era de que ela se vestida como uma jovem de 20 anos. Ela nunca se importou, acho, não lembro de ter trocado seu guarda-roupa. Mas não é todo mundo que banca ser uma Ana.
Também temos que levar em conta que Ana e minha mãe são de outra geração, onde mulheres de 40 já estavam completamente estabelecidas na vida, apartamento comprado, os filhos já eram adolescentes e o povo já vislumbrava uma aposentadoria dali a 15 anos. Primeira geração onde o divórcio foi normalizado, onde não existia site ou apps de namoro, onde o culto a juventude não era tão tóxico e onde mulheres de 45/50 eram senhoras.
Hoje, como sabemos, o cenário é bem outro, os 40 – dizem – são os novos 30. Mas não sei se isso está sendo percebido pela sociedade em geral, se o povo tá mesmo comprando essa ideia. Estou na dúvida e sigo no limbo.
Gostei muito de te achar e ler um texto seu. Saudades de você.
Em uma vida passada te considerava minha melhor amiga, mas acabei casando, me mudando e nunca mais te vi.
De qualquer forma sempre lembro de vc.