Quando eu tinha 20 anos, o revival dos anos 80 estava no auge. A festa Ploc capitaneava esse movimento, viajando pelo Brasil e levando para o palco nomes como Silvinho Blau Blau, João Penca & seus Miquinhos Amestrados, Turma do Balão Mágico e outras bizarrices. Nessa época também voltaram à cena personagens há muito no ostracismo - e que acabaram ficando por aí até hoje - como Gretchen e Sérgio Mallandro.
Isso era início dos anos 2000 e, a depender da turma que você frequentava, era possível que o último set da noite fosse todo dedicado a canções da Xuxa, Metrô, Ultraje a Rigor e afins. Eu achava um porre.
Gostava de me identificar como indie, isso queria dizer que a mim me interessavam bandinhas de rock desconhecidas, sofridas e um pouco tristonhas. Mas na real curtia muito rock e pop, um pouquinho de axé e muito funk carioca. Brasil, né, gente? Ninguém passa ileso.
Mas, apesar disso, nunca gostei dessa sessão nostalgia. Achava triste aquelas pessoas de 30 e muitos, 40 anos participando de um ritual em homenagem a sua juventude. As músicas eram péssimas, nada da fina flor 80s - que poderia ser incrível. A ideia era quanto mais trash melhor, focar na infância, curtir um pogobol… Um lance freudiano, com certeza.
BACK TO THE 90s
Escrevo isso hoje em plena febre anos 90/00: muito cropped, obsessão por Titanic (o filme), Britney Spears, show de Backstreet Boy e, infelizmente, calça cargo. Um dia escreverei um post inteiro sobre meu desprezo pelas calças e bermudas cargo, mas não hoje.
Sendo essa época a MINHA época, aurora da minha vida, seria natural que eu quisesse entrar nessa trend, ter uma nova chance de dançar ao som de “oops, I did it again” ou Ace of Base (amo e amo). Mas não consigo tirar da cabeça aqueles quarentões que há vinte anos esgotaram os ingressos da Ploc no Circo Voador. Comigo não.
A MATRIZ REABRIU
Essa foi a notícia que me pegou de surpresa semana passada. A Casa da Matriz, reduto de todas as minhas noites dos 18 aos 30 anos de idade, está de volta. Com outro nome, talvez sob nova direção, mas - pasmem - com os mesmos DJs e a mesma festa que assombrou minhas semanas durante meus 20 anos, a Maldita. Uma festa cujo slogan era “Comece a semana se acabando”, que acontecia toda segunda-feira, às 23h, e só tocava bandas tão indies e tão obscuras que ninguém gostava. É sério, todo mundo ia na Maldita para encontrar as mesmas 50 pessoas que toda segunda batiam ponto lá. A pista ficava sempre vazia, mas, por algum motivo, a gente sempre voltava.
Meus amigos tentaram me convencer a participar desse baile da saudade do rock. Eu, que já naquele tempo praguejava contra essa vida noturna excessiva, que ignorava totalmente minha natureza em prol de minha vida social, educadamente declinei.
Paulo Gustavo, em toda sua genialidade, tinha uma tirada ótima na pele de uma de suas personagens peruas super sinceras: “Tenho horror de encontrar gente do passado. Vai encontrar gente do passado, pra quê? Tem nem assunto”.
Aqui em Barcelona fazem uma matinê de quarentoes aos domingos chamada Common People no Razzmatazz. Eu fui domingo passado sem saber o que esperar e foi mara. Dancei horrores, tomei todas. Conclusão: voltarei.
Não quero reviver meus 20s porque curto mais meus 40. Saudades do colágeno e dos amigos e pouco mais. Eu gostei do revival exatamente porque vivo minha vida de agora e não to com a mesma playlist de 98 :) ou 2004. Um destaque na festa foi o ambiente. Coroas de bom humor. Nada de jovem sem camisa gritando (cena habitual no Apollo nowadays que não frequento pra dançar, só show). Aliás, fizeram uma festa de fim de ano no LA PALOMA. Um lugar sempre bonito com música ruim desde dois mil e bolinha. (eu teria ido na Maldita mas tenho que dizer que na última epoca da festa ia só pela música pq a galera era outra.)