Das inseguranças que surgem
Ser legal às vezes dá um trabalhão, mas isso a Globo não mostra.
Outro dia - acho que já tem uns três anos - estava na análise observando uma certa dificuldade em me reconhecer. Sentimentos e atitudes até então desconhecidos agora davam as caras e me fazem questionar diariamente se está tudo bem. Botei na conta da idade, mas ela - certeira - apontou: filho muda tudo. E, de fato, a questão ali não estava relacionava exatamente com velhice ou amadurecimento, mas à maternidade.
Eu, que nunca me importei em agradar, nunca me furtei de polêmicas ou de compartilhar meu ponto de vista, agora me vejo ponderando e preocupada em ser bem interpretada, percebida como uma pessoa “legal”. Isso porque o que acham de nós se estende, na neurose materna (ou minha), ao que acham de nossos filhos. Não queremos que sofram por nossos erros e defeitos. Não queremos vê-los excluídos, então nos esforçamos para sermos incluídos.
Não somos mais seres sozinhos vagando por aí dando vazão a nossos desejos, alheios ao julgamento do outro. Não estamos mais na zona de conforto, nas relações cheias de referências que prescindem de muitas palavras.
E isso cansa.
Não posso garantir que essa seja uma neurose compartilhada, mas acredito que em maior ou menor grau, toda mãe sente algo similar. De minha parte botei na cota do sacrifício. Assim como para alguns o esforço está em acordar cedo e levar a criança para a praia, pra mim está em me fazer entender sem parecer crítica. Mingle.
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Agora estou novamente aqui pensando que devo ter dado a impressão de uma pessoa disfuncional. Mas não, muito pelo contrário, sou altamente social e gente boa, porém posso perfeitamente guardar melhor alguns comentários para mim mesma, escolher onde e quando empregar ironia, sarcasmo e, principalmente, selecionar melhor os emojis para deixar tudo mais fofo. Carinha piscando e carinha mandando beijo.
Talvez isso tudo chama-se ser adulto mesmo e eu que não curto muito isso de ser adulto. Bom, já não era sem tempo.
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Por último, uma observação óbvia: as pessoas estão perdendo totalmente a capacidade de se comunicarem via texto. A falta de interpretação é uma consequência óbvia e já sabemos o estrago que faz, taí o Twitter todo dia nos fornecendo exemplos inacreditáveis. Mas minha impressão é as mensagens estão ficando cada vez mais truncadas. Não é preciso usar crase, evidentemente, mas falta de pontuação é troço complicado se você quer se fazer entender. Aquela coisa básica de encadeamento de ideias, começo, meio e fim, também ajuda bastante. Ok, ok, agora é a velhinha que tomou conta. Chega, té mais.