Às vezes eu fico um tempo assim sem escrever e fico culpada. Quero falar sobre um monte de coisa, mas encaro a tela e não consigo organizar meus pensamentos. Tem um lado muito complicado em manter uma pessoa física e uma jurídica. O meu trabalho hoje não tem absolutamente nada a ver com escrever, ficção ou não. Aliás, o meu trabalho não tem mais nada a ver com criatividade ou comunicação. E isso foi uma escolha.
Enquanto fui repórter quebrava a cabeça pensando em pautas, prazos e textos. Depois, mais tarde, já em agência de comunicação, vivia pensando em estratégias, planos, “narrativas” e crises. Sobrava pouco espaço para usar minha imaginação para a produção de textos literários. E também nunca sobrava dinheiro. A falta de dinheiro ocupava um grande espaço na minha cabeça e no meu tempo, uma vez que tinha de recorrer a frilas para complementar o orçamento.
Resolvi então mudar de vida. Já que não ia rolar ser uma escritora de sucesso e ganhar dinheiro escrevendo, ia fazer outra coisa da vida. A ideia era fazer algo muito diferente que me permitisse trocar do modo trabalho pro modo hobby com mais facilidade, onde não caberia espaço para a frustração do quase. Porque jornalismo não é arte, jornalista não é escritor e, pra falar a verdade, o jornalismo mesmo está agonizando, infelizmente.
Só que daí tem dessas coisas, às vezes você se envolve demais no seu trabalho CLT (grazadeus) e sobra pouco tempo para viver a identidade secreta, que exerço aqui no Vidinha e no Medium, escrevendo ficção. Ainda assim, acredito que esse arranjo foi o que me fez mais feliz até agora. Nesse aspecto, trabalhar remoto ajuda muito, poupa-se tempo e dá pra trocar a identidade com mais rapidez.
Já que poucos vão ter sucesso fazendo aquilo que amam, ter uma vida separada que financia uma paixão é, a meu ver, a equação mais acertada. Assim como Guinga, que leva (ou levava) a música paralela à odontologia ou o ator Edmilson Barros – sobre quem escrevi aqui – que se dividia entre atuar e o trabalho como engenheiro da Petrobrás. Coloquei no passado porque não sei o atual status de nenhum dos dois.
Exemplos não faltam e foi neles que mirei quando tomei a decisão de não parar nem uma coisa nem outra, mas deixar minhas duas versões coexistirem em harmonia, deixando uma linha bem limitada entre uma e outra. Claro que existe um medo de estar muito alheia ao buchincho, existe a culpa por não dedicar um tempo maior à escrita, mas esses são os fantamas que sempre vão nos assombrar.
Será que o único motivo de eu não ter escrito nenhum besteseller até agora é só porque não me isolei numa casa com todo o tempo do mundo para mim? Pouco provável. O fato de não ter nascido herdeira certamente é um fator agravante, mas quanto a isso não há remédio. Portanto, se organizar direitinho, todo mundo transa.
Seria esse um texto motivacional? Se for o caso, espero que ajude alguém.
eu tou nessa também. quando me aposentar quem sabe me tranco na tal casa na montanha e me dedico a escrever "de verdade".