Não importa qual minha atual ocupação, na hora de preencher qualquer formulário, ficha de inscrição ou de responder bate-pronto “qual sua profissão”, sempre direi “jornalista”. E isso não se deve ao fato da dificuldade em explicar o que faço atualmente (não totalmente), mas a uma questão maior, de essência.
Meu primeiro trabalho depois de formada foi em redação. Foram sete anos – em dois jornais diferentes – que forjaram quem eu sou. Mesmo tendo passado tantos anos depois em assessoria, foi lidando com a notícia, os prazos, os plantões, pescoções e meu pares que me transformei não só na profissional como na pessoa que sou hoje.
Isso não é necessariamente uma coisa boa, tá? Jornalista (de redação, principalmente) é bicho chato, crítico, cínico, enjoado e metido. Características que podem ser muito úteis para lidar com a avalanche de notícias, separar o joio do trigo, desconfiar para não ser manipulado etc, mas “na vida real” podem atrapalhar bastante. Talvez isso explique a reprodução em cativeiro.
Apesar de tudo, e por tudo isso, amo ser jornalista. Não sei se minha chatice vem daí ou se por ser chata me encontrei. Porém, na vida prática (tipo pagar contas), tornou-se impossível seguir adiante e me vi obrigada a procurar pousos menos hostis. Como bem explicou @Juliana Cun
ha, não é que falte trabalho para jornalistas, mas não há carreira. Sempre há de pintar um frila aqui outro ali, um trabalho quase escravo numa agência pequena onde o dono, também tentando mudar de vida, conseguiu ascender na pirâmide explorando ex-colegas contratados em esquema MEI. Mas carreira, um labor que com o tempo naturalmente o profissional galgue melhores cargos e salários – eso no existe.
Hoje sou uma cidadã do mundo corporativo em processo de ambientação. É uma mudança drástica de cultura, colegas, ambiente, tudo. Mas também há uma paz nisso, um recomeço. Tenho também a impressão que as pessoas são mais felizes, ou fingem que são. Jornalista curte reclamar. Acho que é parte da cultura também. Em redação, vestir a camisa é vergonhoso, na firma, motivo de orgulho. Todo um shift de mindset, para ficar no novo léxico. O que fica é um gosto agridoce. É bom mudar, mas a necessidade de fazer isso é de uma tristeza infinita.
Ahhh, muito bom. Eu agora escrevo: informática. HAHAHAHA. Só de preguiça em explicar what the hell eu faço.