Life friendly: a brand new concept
Se você achava que sua vida era amigável, achou errado. Ninguém é feliz sem um estúdio de podcast.
Foto: Divulgação/ First Life Friendly
Muito se tem discutido na imprensa e nas redes sobre a revisão do Plano Diretor de São Paulo. Um projeto que vai ao encontro da nova tendência das grandes metrópoles que é demolir casas e prédios antigos para construir torres imensas de apartamentos do tipo estúdio, com unidades de 16 a 30 m². Sim, o futuro das pessoas é pagar caro para morar em caixas de sapato em bairros completamente descaracterizados e gentrificados.
Como há muito o Rio de Janeiro deixou de ser um lançador de tendências para se tornar um reles paga pau de paulista (olha aí), a moda não tardou para chegar aqui. Desde que a night virou balada e rolé ganhou acento circunflexo, foi só ladeira abaixo.
Como Botasoho e sua vizinhança é laboratório e terreno dos hipsters, a novidade bateu logo. Recentemente os moradores do Humaitá foram impactados pela construção do First Life Friendly, um retrofit em um antigo espigão pertencente à prefeitura no Largo dos Leões, que agora vai virar empreendimento residencial. A brand new concept. A imobiliária responsável anuncia o First como uma revolução (“perfeitos para solteiros ou casais”), que vai oferecer imóveis “compactos”, com “metragens otimizadas” (na base de 32 m²).
Vamos ao conceito de “Life Friendly” : rooftop (claro), área de coworking, estúdio de podcast e MUITO mais. Eis a visão de futuro dessa gente. Um futuro distópico, diga-se, onde cada ser humano poderá gravar seu próprio programa. Porque, claro, tudo que precisamos é de mais um podcast. Agora em escala industrial.
No mesmo bairro, rumores dão conta de que o antigo pensionato da rua Miguel Pereira, o Bucetão, vai pelo mesmo caminho. Não sei se a informação procede, mas, por ora, o edifício está cercado de tapumes indicando que não vem coisa boa por aí. Apesar de que bucetão tem a maior vocação para ser life friendly.
E as novidades não param por aí, o antigo prédio de Furnas - a poucas quadras do First - também se tornará um empreendimento imobiliário. O espaço ocupa praticamente o quarteirão inteiro, se quiserem manter o padrão caixa de fósforo, eles criarão uma gigantesca cabeça de porco, muito pouco life friendly. Não vai ter eufemismo que dê jeito.
Claro que nada disso veio acompanhado de um projeto de mobilidade urbana eficiente. Deus me livre de ampliar a rede de metrô ou mexer na máfia dos ônibus. A ideia é botar essa gente toda socadinha em seus apartamentos e, se possível, que não circulem muito por aí. Gravem seus podcasts, desfrutem seus rooftops e vivam felizes.
PS: A brand new concept é uma singela homenagem a
. Leiam Terraleste
kakakaka