Macaé, Maquita, Senhor Maquinha
O cãozinho que chegou para unir uma família e aprontar altas confusões
Semana passada fui impactada por dois textos que tratavam da morte de cães de estimação. Li com os olhos cheios d’água enquanto encaro o envelhecimento do meu. O texto de Daniel Galera mexeu muito comigo, a maneira que Butiá entrou na vida do escritor é muito parecida com a que Macaé entrou na minha. Na verdade, é justo dizer que Macaé foi o responsável pela existência da nossa família.
Lá nos idos de 2016 eu e Denis estávamos começando a namorar – o dia oficial data de 10 de fevereiro daquele ano, quando nos reencontramos num desfile do Boi Tolo e não nos desgrudamos mais. Apaixonados, surgiu um papo cachorro é legal. Nenhum dos dois nunca havia tido um animal.
Dois meses depois me vi pesquisando sobre doação de animais. Conversávamos sobre a ideia de ter um cachorro sem nem ao menos falarmos sobre como faríamos para cuidar do bicho, dado que cada um morava num canto. Quem cuidaria dele? Não falávamos sobre a logística, mas discutíamos a respeito das características desejadas: médio porte (“não queremos um cachorrinho de madame”), cansado (“não temos energia para mais que isso”) e educado.
Estava tudo muito no campo das ideias quando em maio a tia de uma amiga – uma atravessadora, que junta cães abandonados a possíveis donos – me cutucou no Facebook para dizer que tinha um bichinho para mim. Um vira-lata preto e magro havia sido achado perto de uma obra no Rio Comprido e o casal que ofereceu o lar temporário não poderia ficar com ele, já tinham três gatos e pouco espaço. Sem pensar muito aceitei conhecer a criaturinha.
O dono provisório chamou ele de Macalé, por conta de um charmoso dentinho pra fora. Não gostei desse nome e pensei em adaptar, tinha acabado de ser divulgado o famoso áudio de uma conversa entre o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do então ex-presidente Lula onde o primeiro brincava com o fato de Lula ter "alma de pobre" e fazia comparações entre Atibaia (SP), onde ficava um sítio frequentado por Lula, e municípios do Rio como Maricá e Araruama.
Bom, aqui é importante dizer que sou notória trocadora de nomes, já errei nome de personagem de matéria mais de uma vez. Então, ao ouvir o áudio, achei muita graça e decidi nomear o cachorro em homenagem a Dudu Paes: Macaé. Me achei muito genial até minha mãe me lembrar que o áudio falava de Maricá. Mas aí já era tarde e, assim, Macaé entrou em nossas vidas. E, porque CLARO que não daria para eu cuidar sozinha do bicho, Denis se mudou lá pra casa.
Quando o levamos ao veterinário foi estimado que Maquinha já tivesse um ano, portanto contamos a idade dele assim. O começo foi atribulado, ele tinha comportamento de filhote, destruiu sapatos, bolsas, uma loucura. E, como todo cachorro abandonado, surtava cada vez que um de nós se afastava, hábito que mantém até hoje. Também por trauma, acredito, é bastante defensivo com quem não conhece e costuma dar umas mordidas de leve naqueles que entram em nossa casa desavisados. Fidelidade canina, não do tipo que esperávamos quando adotamos um cachorro, mas ok, é uma forma de amor.
Doze meses depois Antônia nasceu. Achávamos que dali brotaria uma amizade linda e não poderíamos ter nos enganado mais. Macaé simplesmente ignorou a chegada da criança. Hoje ele até respeita sua existência, dá uma cheiradinha em sua bunda quando ela chega da rua, mas nunca, em seis anos, deu muita confiança para a garota. Ela sofre por não ter o amigão que esperava, nós nos emputecemos com ele e não há nada a ser feito. Ele tem ciúmes dela, ela adora ele. Nós – eu e Denis – amamos os dois.
Hoje Macaé tem por volta de oito anos, não é exatamente um idoso, está na meia idade, mas já demonstra sinais de cansaço, como nós. Se antes era capaz de correr horas (sempre suspeitamos de sangue de galgo naquela mistureba), hoje ao fim de algumas voltas alucinadas fica completamente desnorteado e já tememos piripaque mais de uma vez. A barba também está grisalha, a cabeça ficando menor que o corpo e o esfíncter mais frouxo. A depender do aperto, não rola de segurar muito, não.
Seguimos os quatro envelhecendo juntos, e assim passamos pelas intercorrências que surgem: duas brigas de rua quase fatais e algumas crises de giárdia (dele), cirurgias (minha, do Denis, de Antônia), passeios bem sucedidos e outros desastrados, brigas e muito amor.
Apesar de tudo, Maquinha acompanha o crescimento da Antônia de perto: estava lá quando ela começou engatinhar (e queria montar nela), estranhou quando ela começou a andar e hoje corre atrás dela na bicicleta.Brincam de túnel desde pequenos (brincadeira que consiste em fazer um túnel com o edredom para ele passar por dentro), rimos quando ele uiva para o caminhão de bombeiros, ficamos com raiva pelas expectativas criadas (maldito Instagram), mas no fim, ninguém imagina a vida sem ele. Quer dizer, a gente até brinca que sim – liberdade enfim – mas é mentira.
Ai, por favor. Nunca vi, sempre amei. Macaé <3 Pura tranqueira. Você nao poderia ter outro cachorro, veio pra quebrar tudo. Enfim. Caiu a lagriminha. Eu penso na Nina tipo 25 horas ao dia.