Olha, mais uma roda de samba
Photo by Lucas Margoni on Unsplash
Vivemos na ditadura da roda de samba e eu posso provar. Mentira, não posso, não tenho provas, mas tenho convicção. De uns tempos pra cá toda festa, toda comemoração, todo evento, toda night tem uma roda de samba. Eu acho que isso começou na pós-pandemia, quer dizer, começou não, mas se consolidou. Como disse um amigo, hoje o call to action é “qual samba vamos hoje”. A regra é clara e não há escapatória.
Muitos dirão que acham isso maravilhoso, um sonho realizado. Outros, como eu, estão simplesmente resignados. Mas por que isso agora?
Eu tenho algumas hipóteses e é tudo baseado puramente em achismo, observação e um ou outro fato. Como essa newsletter não se pretende científica, aqui vão meus dois centavos de contribuição a fim de elucidar esse fenômeno.
O primeiro fato é que não há tanta juventude sub 25 em rodas de samba, não estou afirmando que eles não existem, mas estão longe de serem maioria. Portanto, rodas de samba são zonas de conforto para os 35+, que se sentem mais misturados, por assim dizer.
Rodas de samba também começam cedo (a maioria), o que agrega mais um ponto para nosso cansado e combalido público após décadas de inferninhos hermeticamente vedados.
Rodas de samba são basicamente hétero, o que ajuda gatas e gatos HTs 37+ que nunca curtiram os aplicativos de pegação.
E, ponto fundamental no pós-trauma pandêmico, rodas de samba são ao ar livre e o povo quer gente, calor humano e ventilação.
Ah, não podemos esquecer do fato econômico e democrático, elas são de graça ou bem baratas, o que agrega na cerveja e no fator liberdade de padrão.
Ora, você vai dizer, a lista só fala a favor das rodas de samba, como não amar? Veja bem, nada contra. Inclusive, muito a favor. Porém, diversidade, né, gente? Não é isso que queremos? Sinto falta de uma pista, aquela coisa de dançar diferentes ritmos e tal, fazer uma pequena montação, um make mais ousado. Não precisar saber as letras…Mas tudo bem, podem continuar me chamando que eu vou nos sambas, inclusive já sei um montão de letra, só não sei sambar, aí é pedir demais. Mas vambora.
Inclusive acho que esse lance do horário é algo que podemos aproveitar legal, festas que começam e terminam cedo, uma velha batalha que certamente morrerei tentando. No mais, eu acho que é tipo carnaval. Depois de alguns anos ressuscitado o carnaval de rua, o povo percebeu que não só de marchinha se vivia o folião e, aos poucos, foram incorporando outros ritmos aos blocos. Hoje tem bloco que toca ritmos caribenhos, toca Raul, Tim Maia, Beatles, música brega, jazz… Porque o que o povo quer é festa na rua começando cedo, de graça, com pegação, cerveja barata e montação nos looks. Minha aposta é que a roda de samba vai por aí. Quando começarem as rodas de samba temáticas contem comigo.