Outro dia fui escrever uma mensagem dizendo que não tinha mais memória e saiu maemoria. Na hora apontei o ato falho. De fato, minha memória se deteriorou muito depois da maternidade. Eu sempre fui o HD externo dos meus amigos. Lembro da roupa que estava usando no dia tal de dezembro de 1996 quando eu e Ana fomos no Empório pela primeira vez. Aliás, ainda lembro razoavelmente bem dessas coisas. São os acontecimentos recentes que me desconcertam.
Minha memória já me constrangeu também quando numa comemoração de x anos de formado no colégio, cheguei para minha ex-professora de matemática — que obviamente não tinha a menor lembrança de quem eu era — e falei, “Olá, Sandra, seu aniversário é dia 14 de novembro” (que aliás é hoje. Parabéns, Sandra). Ela me encarou com uma expressão de quase pânico. Seria eu uma louca stalker? Me arrependi imediatamente.
Por que eu sabia isso? Nem ideia. Minto! Sabia porque havia escrito na minha agenda (que eram uma espécie de diário da minha geração) e, por acaso, era no mesmo dia do aniversário de uma amiga, a Teresa. Mas por que essa info ficou comigo tanto tempo? Mistério. Aliás, Teresa, se você me lê, parabéns também, viu?
A Ana, minha amiga desde os cinco anos, a tal do Empório, hoje é astróloga — leiam ela aqui — e faz muitos estudos usando seu próprio passado como referência. Imagino que seja para testar conjunções específicas e se as ideias corresponderam aos fatos. Só que a pobre tem uma memória péssima e volta e meia pipoca uma mensagem no celular querendo saber quem era seu namroado nos idos de 1999 e o que havia acontecido de importante no segundo semestre de 1997. Eu sempre sei. Sei a cronologia inteira de nossas vidas, mas sou incapaz de lembrar detalhes de livros que li, enredos de filmes que assisti e diálogos geniais de séries. Também sou péssima para nomes, já falei disso aqui.
Hoje sei que é melhor omitir que tenho gravado fatos irrelevantes sobre a vida das outras pessoas de quem sei quase nada. Certas coisas não tem como explicar sem eu parecer uma psicopata. Não convém. Dito isso, estou esquecendo. Esqueço coisas que não queria esquecer, como o cheiro que minha filha tinha quando era neném, as primeiras palavras, o dia da festa do Arthur… Mas sei as letras do Gabriel Pensador de cor e não tenho nenhum orgulho disso.
Para evitar esse borrão que é a vida agora, que passa rápido sem eu me dar conta, vou fotografando, gravando tudo. Certamente daqui uns anos estarei pagando um salário mínimo de espaço de armazenamento no Google cloud. Estou terceirizando minhas memórias para uma empresa que talvez nem exista daqui a quarenta anos, é uma aposta. Se tudo mais der errado só me restará cantar “Retrato de um playboy”.
Eu fiquei pensando na força q as ias terão contra nós na nossa futura guerra contra as máquinas...
Vc e Gabriel Pensador, haha. Lembro quando você contou quando o conheceu na tal festinha. Era na mãe dele se não me falha a maemoria.